20 novembro 2008

Face a face com a cruz

Por Davi Lago

“Quando o centurião que estava em frente de Jesus ouviu o seu brado e viu como ele morreu, disse: ‘Realmente este homem era o filho de Deus!’”.

Marcos 15.21-39.

Todas as religiões enfatizam a vida de seus líderes. O cristianismo, no entanto, enfatiza a morte e ressurreição de Jesus. Perceba que um quarto do evangelho de Lucas fala sobre a última semana da vida de Jesus, Marcos e Mateus dedicam um terço de seus evangelhos, e João a metade.

O teólogo John Stott afirma que vários símbolos poderiam ser dados ao cristianismo: uma toalha representando o serviço cristão, uma pomba ou o fogo representando o Espírito Santo, uma manjedoura representando a encarnação de Cristo, entre outros. Mas o símbolo supremo do cristianismo é a cruz. É a cruz que dá sentido ao cristianismo. Todos se apequenam diante dela.

Nosso texto traz o relato da crucificação e morte de Jesus Cristo. Jesus foi condenado a morte por crucificação. Essa era a condenação mais humilhante que alguém podia receber: a morte de cruz. A crucificação era prática comum dos romanos. Os crucificados morriam por um dos seguintes motivos: sufocamento, esgotamento ou hemorragia. Em 1968, arqueólogos encontraram em Tzaferis, na Palestina, quatro esqueletos de homens que foram crucificados.

O texto diz que Jesus carregava a cruz até o local da execução. Ocorre que ele ficou esgotado e já não conseguia carregar a cruz. Foi nesse momento que os soldados romanos obrigaram um homem chamado Simão de Cirene, que passava por ali, a carregar a cruz de Jesus. A cidade de Cirene ficava no norte da África. Simão, muito provavelmente, estava em Jerusalém para comemorar a festa judaica da páscoa. A Bíblia traz ainda um dado importante sobre Simão de Cirene: seus filhos, Alexandre e Rufo, tornaram-se líderes da igreja primitiva (Romanos 16.13).

Ajudado por Simão, Jesus chegou com a cruz num monte chamado Gólgota, Lugar da Caveira. A execução por crucificação acontecia neste lugar sinistro, fora das portas de Jerusalém. Os criminosos não tinham direito a uma morte digna. Ofereceram então um narcótico para Jesus, para que ele não sentisse tanta dor, mas ele rejeitou.

Às nove horas da manhã Jesus foi crucificado. A Bíblia diz que os soldados romanos tiraram sortes para ver quem ficava com sua túnica. Jesus era pobre, não tinha nada além daquela túnica. E repare que, enquanto Jesus estava sofrendo, alguns estavam brincando e se divertindo. Essa é uma triste realidade, há pessoas que brincam com a cruz, brincam com a salvação e com seus destinos eternos.

Sobre a cabeça de Jesus havia uma placa com a inscrição: Rei dos Judeus. Havia também dois criminosos sendo crucificados com ele: um de cada lado. E pendurado daquela maneira horrível, as pessoas o humilhavam lançando insultos. O povo o insultava, os sacerdotes, que deviam estar no templo, o insultavam e até os dois criminosos o insultavam.

Foi neste momento que Jesus foi tentado pela última vez. Uma pessoa gritou para ele: “Desça da cruz e salve a você mesmo”. Essa foi a última cartada de Satanás. Se Jesus tivesse descido da cruz, ele não teria morrido em nosso lugar e todos nós estaríamos eternamente condenados. Mas porque ele não desceu da cruz, nós podemos subir ao céu.

Houve, então, trevas sobre a terra do meio dia às três horas da tarde. Os pecados da humanidade escureceram o sol. A terra escureceu diante do sofrimento do Filho de Deus. Quando Jesus nasceu fez dia à meia-noite, e na sua morte, houve trevas ao meio-dia. Essa escuridão lembra a penúltima praga que Deus lançou sobre o Egito: a praga da escuridão por três dias, que foi seguida pela praga da morte dos filhos primogênitos.

Jesus bradou agoniado: “Deus meu! Deus meu! Por que me desamparaste?”. Ele havia sido desamparado por todos, e agora pelo próprio Pai. Naquele momento, o inferno desceu ao Calvário. Toda a ira de Deus contra o pecado, acumulada desde o princípio do mundo recaiu sobre Jesus.

Jesus gritou mais uma vez, e morreu.

O que aconteceu então? O texto revela o significado da morte de Cristo. Está escrito que o véu do templo rasgou de cima a baixo. Cabe aqui uma rápida explicação: o templo foi construído para que os sacerdotes pudessem oferecer sacrifícios a Deus pelo perdão dos pecados do povo. O templo era cheio de simbologias e havia todo um sistema de sacrifícios.

O templo tinha três áreas: o átrio, o Lugar Santo, e o lugar mais importante, uma sala chamada “Santo dos Santos”. Era ali que o sacerdote ouvia a voz de Deus. Somente o sacerdote podia entrar ali, após ter realizado todo o ritual dos sacrifícios.

Ocorre que quando Jesus morreu, o véu que era a porta para o “Santo dos Santos” foi miraculosamente rasgado de cima a baixo. O véu simbolizava a separação entre Deus e os homens. Agora, com o véu rasgado, toda a humanidade tem acesso ao “Santo dos Santos”. Ou seja, todo ser humano pode chegar a presença de Deus. A morte de Jesus aboliu o sistema de sacrifícios. E repare que rasgou não a metade do véu, mas o véu inteiro. Jesus é o caminho para o “Santo dos Santos”, ele é o único caminho para Deus.

A Bíblia diz que na cruz, Jesus suportou não apenas uma dor física indescritível, mas suportou o pecado de todos. “O Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós” (Isaías 53.6).

Se Deus não fosse justo, não haveria exigência para o sofrimento e a morte de seu filho. E se Deus não fosse amoroso, não haveria disposição do Filho de sofrer e morre Mas Deus é justo e amoroso. Em outras palavras: Deus é justo deve nos punir pelo nosso pecado. Mas Deus também nos ama e quer nos perdoar. A cruz soluciona este dilema.

Na cruz, Jesus estava suportando o sofrimento e o julgamento do inferno, em seu e em meu lugar. “Cristo sofreu pelos pecados de uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus” (1Pedro 3.18).

É neste momento que ficamos face a face com a cruz. Assim como aquele soldado romano estava frente a frente com a cruz de Cristo. E a grande pergunta é: o que faremos da cruz de Cristo? O que faremos de Jesus?

Que nossa atitude possa ser a do soldado romano: “Quando o centurião que estava em frente de Jesus ouviu o seu brado e viu como ele morreu, disse: ‘Realmente este homem era o filho de Deus!’”.

Você está sobrecarregado? Olhe para a cruz e encontrará descanso. Deus e o homem se encontram na cruz. Certa vez perguntaram: O que é a cruz? Uma criança respondeu: Cruz é uma escada que nos leva para o céu.